terça-feira, 7 de setembro de 2010

Documentos Eclesiásticos: Metodologia


Quando tratamos da pesquisa qualitativa, frequentemente as atividades que compõe a fase exploratória além de antecederem à construção da pesquisa, também a sucedem. Muitas vezes, por exemplo, é necessário uma aproximação maior com o campo de observação para melhor delinearmos outras questões, tais como os instrumentos de investigação. Tendo uma visão mais ampla, podemos dizer que a construção da pesquisa é, inclusive, uma etapa de fase exploratória.

Considerando que nesta pesquisa, a mesma precisa seguir os parâmetros qualitativos, podemos dizer que a análise de documentos eclesiásticos precisam de uma série de metodologia e conhecimento científico por parte do pesquisador.

Segundo Pinsky (2005) os arquivos de natureza religiosa no Brasil são detentores de grandes conjuntos documentais, nem sempre facilmente acessíveis. Os mais notórios são os da Igreja Católica, cujos acervos estão reunidos nas cúrias diocesanas, sob os cuidados de serviços de arquivos em geral bastante precários e desconfortáveis, que costumam improvisar o atendimento quando surgimento inesperado de um pesquisador.

A documentação, rica e variada, compõe-se em especial de registros paroquiais de batismo, casamento e óbito, processos diversos, livros tombo das paróquias e correspondência, organizados pelo nome das paróquias e em ordem cronológica. (PINSKY, 2005 p. 40)

A amplitude do acesso permitido depende exclusivamente do bispado e, portanto, tende a se alterar com a mudança de seus ocupantes. Alguns interpõem dificuldades quase intransponíveis, enquanto outros são bastante liberais e abrem até mesmo documentação mais sensível, como os processos relativos aos próprios religiosos.

De maneira resumida, os arquivos eclesiásticos preservaram escassa documentação para os séculos XVI e XVII, começando a ser mais expressivos a partir do século XVIII. Seria de se esperar que essas fontes, em especial os registros paroquiais realizados durante os períodos colonial e imperial, fossem de livre acesso ao público, já que a Igreja, por intermédio do Padroado Régio, atuava como um autêntico serviço público. Deveriam estar abertos à livre consulta, sem maiores restrições, amparados em legislação específica regulamentando essa questão.

O uso dos registros de batismo, casamento e óbito sempre foram essenciais para os genealogistas,mas, a partir de década de 1960, os demógrafos historiadores e historiadores da população passaram a usar tais fontes de maneira bastante intensa alcançando resultados expressivos na análise dos padrões demográficos de populações do passado (PINSKY, 2005 p. 40)

Processos e devassas eclesiásticos também foram largamente usados pelos mais diversos historiadores preocupados com os projetos moralizadores da Igreja direcionados aos indivíduos e às famílias. Segundo LONDOÑO (1999), usa devassas e processos de divórcio para elaborar importante estudo sobre o concubinato na Colônia, em sua obra A outra família. Aos poucos vamos percebendo a forma do uso desses documentos como referência fundamental no processo da pesquisa científica.

A documentação eclesiástica inclui ainda outras séries documentais, como testamentos, habilitações matrimoniais, uns raros mas significativos registros de crisma, libelos de divórcio; também documentos avulsos como visitas pastorais, documentação das irmandades leigas, entre outras. O característico dessa vasta e diferenciada documentação é que a maioria dela está dispersa nos arquivos paroquiais e diocesanos, sendo por isso mais difíceis de serem localizados do que a documentação que galga a administração pública e religiosa e pode ser encontrada nos grandes arquivos públicos ou privados da Igreja ou das ordens religiosas.

Através de várias leituras de conceituados teóricos referentes a pesquisa histórica, principalmente Carla Pinsky, podemos oferecer uma visão de técnicas e métodos de como se trabalhar com esses documentos, principalmente os tombos paroquiais, um dos documentos que embasa esta pesquisa.

O pesquisador deverá apresentar um conhecimento em paleografia , bem como conhecer palavras da linguagem eclesiástica, para poder compreender o que o autor do documento relata. O livro tombo é uma ferramenta essencial para os estudos do histórico de uma paróquia, pois relatam festejos, cartas pastorais, algumas intervenções políticas e ou administrativas da cidade a qual pertence, dentro outros fatos importantes para se ter uma “atmosfera mental” da sociedade a qual pertence.

É importante ressaltar que ao analisar tais documentos, todos os dados devem ser anotados, desde ofícios, numerações variadas, páginas e autores, para que o pesquisador possa fundamentar de onde retirou tais informações ao escrever seus artigos.

O trabalho com fontes manuscritas é, de fato, interessante, e todo historiador que entra por essa seara (sic) não se cansa de repetir como os momentos passados em arquivos são agradáveis [...] O abnegado historiador encanta-se ao ler os testemunhos de pessoas do passado, ao perceber seus pontos de vista, seus sofrimentos, suas lutas cotidianas. (PINSKY, 2005 p. 24)

O método utilizado nesta pesquisa é variado, os documentos eclesiásticos e principalmente o livro tombo, são as principais ferramentas para dar base a descoberta realizada pelos autores, em que a paróquia de Santo Antônio do Pinhal foi criada em regime de Padroado, para administrar a parte cartorial dessa região.

A relação entre o historiador e as fontes documentais, mais especificamente as da Igreja, nem sempre foi a mesma. Dos que viam nos documentos fontes de verdade, testemunhos neutros do passado, aos que analisam seus discursos, reconhecem seus vieses, desconstroem seu conteúdo, contextualizam suas visões, muito se passou e, pode ser estudado na ampla bibliografia à disposição sobre a temática.

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